Descrever visualizações arquitetônicas do futuro não é uma tarefa fácil, por isso faz muito sentido que os designers usem aspectos de nossa arquitetura existente como base para estes mundos fictícios. Apesar dos avanços recentes em termos de tecnologias de animação e CGI, ainda há uso substancial da arquitetura existente para fornecer elementos estruturais palpáveis ao filme.
Em termos de reciclagem de estética arquitetônica, elementos do passado e do futuro são frequentemente integrados para criar um estilo hibridizado, uma amálgama de temas retrô, distópicos, modernistas e futuristas. Desde o ressurgimento de antigas pirâmides e templos, até panoramas que lembram a cidade de Nova York, o visual varia de acordo com as diferentes noções de como será nosso futuro.
Talvez a saga Star Wars seja a mais variada entre os filmes de ficção científica no que diz respeito à visualização arquitetônica. No fictício planeta deserto de Tatooine, criado por George Lucas, um local carente de recursos naturais, a arquitetura se apresenta bruta, modesta e sem ornamentos. Gorfas de vários locais no sul da Tunísia, incluindo Ksar Hadada, apareceram com destaque no filme Star Wars: Episódio I A Ameaça Fantasma. Utilizadas como espaços para armazenar grãos, essas estruturas simplistas de terra foram transformadas em habitações de alta densidade. Formas primitivas em contraste com a alta tecnologia.
No Episódio II, Ataque dos Clones, em contraste com os modestos aposentos de Tatooine, temos a arquitetura do planeta Naboo. Com cidades utópicas construídas por civilizações avançadas, a cidade de Theed pode ser vista na Plaza de España em Sevilha. Projetada pelo arquiteto Anibal Gonzalez para a Exposição Mundial de 1929 em Sevilha, foi construída no estilo renascentista. O pavilhão ornamentado, a colunata e as fontes oferecem um cenário magnífico para esta próspera metrópole.
A cidade de Coruscant, capital da velha república e sede do templo Jedi, retrata uma densa ecumenópole. Como uma cidade cosmopolita e capital galáctica, visualmente é tão futurista quanto concebível. Com um horizonte baseado na moderna de Nova York e nas cidades contemporâneas de Cingapura e Kuala Lumpur, retrata a arquitetura do futuro como densa, povoada - uma colmeia de atividade dominada pela expansão urbana.
Temas antigos permeiam as visualizações futuristas. O templo dos Jedi se apresenta dentro da tipologia de um templo maia. Concebida como uma fortaleza e um local de culto, apresenta revestimento para maior resistência defensiva. Com cinco pináculos, incluindo o pináculo da “tranquilidade”, são semelhantes aos minaretes de Hagia Sophia, em Istambul.
Os Arquivos Jedi foram inspirados na histórica biblioteca de salas longas do Trinity College, Dublin (1712-1732). Não é difícil perceber por que há ecos de influência entre a biblioteca do filme e a da vida real, uma das mais impressionantes do mundo. Uma abóbada de berço arqueada que percorre toda a extensão da sala, e uma seleção de bustos e figuras se assemelham ao que é visto no Trinity College, sugerindo a natureza atemporal do design da biblioteca, e como ela pode continuar a evoluir e ao mesmo tempo permanecer o mesmo em sua essência. Elementos arquitetônicos tradicionais que podem ser transferidos para visualizações futuristas.
O palácio de Jabba the Hutt, um templo exótico com formas brutalistas arredondadas e influência bizantina, apresenta uma abordagem monumental, mas não convencional, da arquitetura palaciana em pedra e aço. Com influência de Santa Sofia, em Istambul, e talvez do Observatório Meteorológico Śneżka na Polônia (1974), combina temas tradicionais e modernistas para criar uma percepção inovadora de palácios futuristas.
Isso dificilmente é o que eu chamaria de palácio, R2. Parece mais uma fundição de ferro - C-3PO para R2-D2 enquanto se aproximam do Palácio de Jabba
A “Walking City" de Ron Herron, parte do movimento Archigram da década de 1960, tem uma semelhança impressionante com o “transporte blindado de todo terreno” (AT-AT) visto na franquia. Como um movimento arquitetônico vanguardista e neo-futurista que baseou grande parte de seu trabalho nas ideias de um futuro distópico, inspirou-se na tecnologia para criar uma nova realidade com uma arquitetura móvel e dinâmica. A proposta de “Walking City” (1964) era uma cidade que pudesse atravessar tanto a água quanto a terra; uma cidade nômade que permaneceria adaptável ao seu ambiente. O AT-AT também apresenta essas qualidades adaptáveis. A uma altura de 22,5 metros, essa máquina de guerra incrivelmente intimidante pode enfrentar combates em diversos ambientes planetários.
Para retratar o forte contraste entre a república e o império galáctico, a saga usou forte influência do brutalismo para representar a natureza brutal do império. As qualidades austeras e desumanizantes dos materiais e formas pesadas no estilo brutalista criam tons ameaçadores, definindo a cena. A Estrela da Morte incorporou muitas dessas qualidades com ainda mais influência do suprematismo, um movimento abstrato originalmente definido pelo artista russo Kazimir Malevich na década de 1910, concentrando idéias de cores de blocos e formas geométricas flutuando no espaço, assim como a estação espacial suspensa no espaço.
O futuro das visualizações arquitetônicas em Star Wars continuará se influenciando em uma gama diversificada de fontes arquitetônicas existentes, já que a franquia não possui um estilo arquitetônico único. Ele tem que narrar uma ampla área da galáxia, com cada planeta com sua própria história, clima e civilização; arquitetura variada para mundos variados. Como um filme que é filmado em nosso próprio mundo e não inteiramente animado/com cenários virtuais, como Avatar, os produtores precisam usar locais reais, sejam eles locais históricos, cidades, habitações no deserto ou templos, para criar uma representação encantadora do futuro. Hibridização de estilos existentes para permanecer atraente, plausível e, o mais importante de tudo, cinematograficamente marcante.
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